A aluna Camila Silveira Pastore do curso de especialização em Endodontia da São Leopoldo Mandic/Equipe de Endodontia de Campinas nos enviou o seguinte caso:
Incisivo Lateral Superior com variação anatômica quanto ao número de canais. O elemento primeiramente apresentava 3 entradas distintas de canais que durante a instrumentação acabaram tornando-se apenas 2. Este tipo de achado é raro na literatura endodôntica.
DE DEUS (1992), em seu estudo a respeito da anatomia dental pelo método de diafanização, relatou que em 97% dos casos, os incisivos laterais superiores observados apresentaram-se com um único canal e em 3% dos casos, com bifurcação (um ramo vestibular e outro palatino), terminando em um único forame.
Na literatura existem raras citações de incisivos laterais superiores apresentando três canais radiculares, como relatados por JUNG (2004) e WALVEKAR & BEHBEHANI(1997), possivelmente relacionados a algumas anomalias.
Em trabalhos envolvendo o estudo anatômico de incisivos superiores, a maioria descreve esses dentes como uniradiculares portadores de apenas um canal principal. Porém em outras citações bibliográficas encontramos variações dessa anatomia, o que prova a necessidade do clínico ou endodontista de estar sempre pronto a avaliar cautelosamente cada caso antes de intervir.
radiograficamente não poderia ser um caso de dens in dent?
ResponderExcluirRealmente olhando pela radiografia inicial pode-se observar uma câmara pulpar um pouco diferente do que normalmente encontramos. No meu ponto de vista trata-se de uma invaginação / Dens In Dent.
ResponderExcluirabraço
Flávio
Parabens pelo caso. Provavelmente os colegas acima estao corretos quanto ao diagnóstico da variação anatômica. Até por se um dente higido e estar com lesão periapical. No RX me parece visivel tambem o forame caecum, caracteristico desta anomalia.
ResponderExcluirCuriosidade: os dois canais encontravam-se desvitalizados?
Um abraço e saudações
Eduardo Fregnani
www.eduardofregnani.com.br
www.eduardofregnani.blogspot.com
PARTE 1
ResponderExcluirOlá Camila,
Primeiro, quero parabenizá-la pelo seu desenvolvimento durante o curso de esepcialização. Tenho certeza que sua evolução será constante, uma vez que bservo que você valoriza cada minuto do curso. Isso é muito bom! Quanto ao caso, concordo com os colegas ao observar a radiografia inicial, entretanto não me parece que a imagem radiográfica seja decisiva. Será interessante um relato de sua parte sobre anatomia externa da coroa e o que vc. observou pós acesso (anatomia interna). Algumas anomalias de coroa podem estar associadas ao dens in dente. Acredito que seja a hipótese levantada pelo Eduardo Fregnani, inclusive para justificar a necrose do dente, principalmente se o dente não sofreu trauma.
Existia alguma anomalia coronária como um sulco coronário que se estendia pela raiz? Veja relato de Pecora et al. sobre o fato:
"O incisivo lateral superior pode apresentar uma anomalia de difícil diagnóstico, que é a presença da depressão radicular (radicular grooves). Essa depressão normalmente está presente na lingual dos incisivos laterais, na área do cíngulo e se estende para a raiz, podendo cessar em diferentes pontos da região radicular. A presença da depressão radicular constitui uma via de penetração de microrganismos, que alimenta de modo definitivo um problema periodontal.
O diagnóstico precoce dessa anomalia é importante pois o paciente pode ser orientado para higienizar seus dentes de modo a evitar a instalação de uma bolsa periodontal. A confecções de próteses fixas sobre um dente que apresenta depressão radicular deve ser evitado, pois o problema periodontal não terá fácil solução".
Vou dividir em 2 postagens em virtude do tamanho do comentário
Olá Camila
ResponderExcluirParte 2
Outra anomalia que pode estar presente na coroa é uma cúspide extra, denominada cúspide talão. Observe dados removidos de um artigo sobre cúspíde talão publicado na Revista Brasileira de Patologia Oral (RBPO):
"CÚSPIDE TALÃO: RELATO DE CASO CLÍNICO
TALON CUSP: CASE REPORT
Lívia Fernandes PROBST1, Patrícia Moraes BOF2, Ana Maria Martins GOMES 3, Marly Almeida Saleme do VALLE 4
Cúspide Talão é uma anomalia dental rara que se apresenta principalmente nos incisivos superiores. Morfologicamente, essa anomalia se manifesta como uma cúspide acessória bem definida que se estende a partir da junção cemento-esmalte ou região do cíngulo e segue em direção ao bordo incisal. Uma cúspide Talão não é um defeito inofensivo, necessitando de criterioso diagnóstico e plano de tratamento. Diagnóstico precoce e terapia adequada são importantes para evitar complicações. A alteração pode causar problemas clínicos como acúmulo de placa resultando em cáries, necrose pulpar, patologias periapicais, atrição, periodontopatias, irritação da língua ao falar ou mastigar, interferência oclusal e problemas de estética. O tratamento para a cúspide Talão varia conforme o caso e deve ser o mais conservador possível...
...Embora possa ocorrer isoladamente, não é raro a cúspide Talão estar associada à outra forma de variação da anatomia coronária, como os incisivos em forma de pá (Neville et al 1998). É freqüente também a sua associação a outras anomalias, como dentes supranumerários, dente invaginado, ausência congênita de elementos dentários, odontoma e impactação. Esta condição pode estar presente em algumas síndromes, como a síndrome de Mohr, síndrome de Sturge-Weber e síndrome de Rubinstein-Taybi (Soares et al 2001)."
Quanto ao dens in dente ou dens invaginatus observe os dados de Pécora et al.:
"O Dens invaginatus é também conhecido como Dens in dente, podendo ocorrer em qualquer dente. Mas, sua maior incidência ocorre nos incisivos laterais superiores. Normalmente, esses dentes podem apresentarem-se coniformes (peg shape).
Existem três tipos de Dens invaginatus, de acordo com a classificação de Oehler (1957):
Tipo I - a invaginação do esmalte está circunscrita à área da coroa dental.
Tipo II - a invaginação do esmalte estende-se até o terço médio da raiz, terminando em um saco cego.
Tipo III - a invaginação do esmalte estende-se até a região apical do dente, de modo a formar diversos forames apicais.
O Dens invaginatus do tipo I não oferece dificuldade ao tratamento endodôntico, uma vez que a invaginação é pequena e está situada na coroa dental.
O do tipo II oferece certa dificuldade ao tratamento endodôntico, uma vez que faz-se necessária a remoção da invaginação do esmalte do interior do canal radicular. Pécora et al.(1987) e Vansan et al. (1990) relatam casos de tratamento endodôntico de Dens invaginatus tipo II.
O Dens Invaginatus tipo III oferece dificuldade ao tratamento endodôntico, pois deve ser complementado com retro-obturação. Nem sempre é possível salvar um dente com esse tipo de anomalia. Costa et al. (1990) relatam um caso de Dens invaginatus do tipo III em um segundo molar superior"
Bom, desculpe a longa postagem, mas acredito que seja um auxiliar aos colegas do blog.
P.S.: não poderia deixar de citar um artigo publicado pelo Eduardo Fregnani, Alexandre Sigrist, outros membros e ex alunos da EEC:
Complex endodontic treatment of an immature type III dens invaginatus. A case report
E. R. Fregnani 1,2 , L. F. B. Spinola 2 , J. R. O. Sônego 2 , C. E. S. Bueno 2 & A. S. De Martin 2
1 Department of Stomatology, A. C. Camargo Cancer Hospital, São Paulo ; and 2 São Leopoldo Mandic Dental Research Centre, Campinas, São Paulo, Brazil
Leitura muito interessante!!!!
Abraços, Carlos Bueno
Primeiramente gostaria de agradecer ao Prof. Dr.Carlos Bueno pelas palavras dirigidas a mim e reafirmar meu compromisso na busca constante da excelência profissional dentro da endodontia.
ResponderExcluirQuanto ao caso clínico em questão, tratava-se de uma invaginação do esmalte que se iniciava na região de cíngulo e se extendia como um sulco pela raiz por palatino, na região vestibular o dente apresentava-se anatomicamente normal. O paciente havia passado por recente cirurgia periodontal na região devido ao acúmulo de cálculo na invaginação. O dente apresentava-se restaurado por palatino com ionômero de vidro sobre a região da invaginação, sendo que a restauração invadia a câmara pulpar, o que certamente provocou a necrose.
Apresentava sintomatologia dolorosa a palpação, sensação de dente crescido e relatava gosto e odor desagradáveis, não respondeu aos testes térmicos.
Ao realizar acesso cirúrgico houve pequena drenagem do abcesso via canal. A câmara pulpar apresentava 2 entradas interligadas (em formato de 8 deitado), sendo uma mesial e a outra distal, e o 3º. canal encontrava-se no terço médio da raiz por mesial. Os forames apicais(3) apresentavam-se como as entradas dos canais, sendo 2 interligados e 1 isolado, referente ao 3º.canal mais para mesial.
Realizei o tratamento em duas sessões, com intervalo de 15 dias, utilizando como medicação intracanal hidróxido de cálcio pa com propilenoglicol.
Após essas 2 semanas o paciente apresentava-se sem sintomatologia, não relatava mais odor e gosto desagradáveis. Câmara e condutos sem drenagem.
Realizei a obturação por condensação lateral e selamento duplo com coltozol e restauração em resina. O paciente foi orientado a fazer o controle radiográfico e periodontal de 6 em 6 meses.
Desde já agradeço a oportunidade de expor o caso aos colegas de profissão, e coloco-me a disposição para possíveis dúvidas.
Um grande abraço,
Dra.Camila Silveira Pastore
dra.camila@hotmail.com
Camila, este caso ilustra bem seu desevolvimento que está em curso na turma de especialização. Apesar de estarem iniciando a parte clínica você já demonstra uma evolução constante, aliada, principalmente, à sua dedicação às atividades sugeridas. Grande abraço e parabéns, uma vez mais, pelo caso descrito.
ResponderExcluirAlexandre Sigrist
Prof.Sigrist,
ResponderExcluirMuito obrigada pelas palavras!!!
Todos da equipe são responsáveis pela minha evolução!
Um grande abraço prof.
Camila